terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

House

Eu adoro assistir House. Passa bem num horário em que a criançada já está dormindo, ou pelo menos no quarto.
Mas o que mais gosto é o pós-operatório (não sei mais usar hífen) dos pacientes. É tão tranquilo, tão simples, tão indolor, tão irreal e tão ilusório.
Minha primeira experiência com hospital foi em 2001. Meu pai foi atropelado por uma bicicleta, quebrou o osso do quadril e teve que ir para São Paulo colocar uma prótese. Ficou no Oswaldo Cruz, que é um hospital bem parecido com o do House.
Foi tudo bem na cirurgia, mas quando ele saiu e foi para a UTI, ele acordou da anestesia completamente doido. Gritando, agressivo, querendo levantar da maca. Tiveram que amarrá-lo e colocá-lo em observação.
Toca a gente a rezar para Nossa Senhora da Paz, para acalmar meu pai e fazê-lo dormir, para ter uma boa recuperação.
Rezamos tanto, que ele resolveu dormir prá valer.
Entrou em coma. Ninguém sabia dizer o que era, a gente ficou sem chão. Visitas diárias na UTI. Eu rezava, sem parar.
Então o Marcelo foi prá São Paulo, e decidido a acordar meu pai. Eu fiquei até com medo do que ele iria fazer, pois só podia entrar um de cada vez na UTI.
Neste dia eu já tinha recebido o santinho de Nossa Senhora da Rosa Mística. Já contei aqui sobre este milagre?
Bem, voltando ao assunto, a sala de espera da UTI lotada. Eu, a Grá e minha mãe lá fora. O Marcelo visitando meu pai. De repente a porta abre e ele sai, com o sorrisão aberto, cara de moleque que aprontou alguma.
-Gente, não fiquem muito animadas, mas acho que ele está acordando.
Pedimos pelamordedeus prá mocinha deixar entrar de dois em dois, ela deixou.
Fui eu e ele. Meu pai estava deitado olhando prá cima. O Marcelo foi do seu lado e chamou:
- Ô Fortes!
Meu pai deu um gemido: - "Humm!", - e virou em direção ao Marcelo.
Eu arregalei os olhos. Nem acreditava naquilo que estava vendo. Troquei de lado com o Marcelo, para tentarmos de novo.
- Ô Fortes!
E novamente um gemido, e o rosto virando para responder.
Demos pulos, nos abraçamos. Corremos lá prá fora, fizemos uma baita folia na sala de espera. Eu sei que o clima ali é péssimo, mas todo mundo já era amigo e torcia um pelo outro. Todos ficaram contentes com a reação de meu pai.
Ele estava acordando.
A gente ficou tudo iludidinhas, achando que dali prá frente seria mais tranquilo.
Nãnão.
No dia seguinte meu pai não reagiu. Só no outro que ele acordou de verdade.
Só que voltou totalmente louco. Não nos reconhecia, não sabia onde estava, achava que era jovem e que estava na fazenda. O neurologista não sabia explicar. Ninguém sabia explicar. Nem o coma nem a doideira.
E o pior, queria sair da cama, e com isso tirou a prótese do lugar umas três vezes.
Em cada uma delas teve que voltar para o centro cirúrgico, até que o médico resolveu engessar sua perna.
Tadinho.
Doido e imobilizado.
Quando ele teve alta, ficamos apavoradas. Como iríamos cuidar do meu pai birutinho lá em casa sozinhas!
Mas tudo deu certo. Um grande amigo vinha dar banho, alugamos cama hospitalar, e aos poucos meu pai foi voltando a si.
Isso tudo ocorreu em fevereiro.
Minha irmã iria se casar em março, mas teve que adiar para maio.
No dia de se casamento, meu pai estava magrelo, sambando no terno. Foi de bengala, emocionado. Inteiro. Neste dia ele chorou. Chorou prá valer, chorou de verdade.
E com as lágrimas foi embora o restinho de loucura. Quer dizer, desta loucura que ele adquiriu no hospital, pois um pouco doidinho ele sempre foi, e continua sendo até hoje.
Puxa comecei a escrever sobre o House e contei uma das piores experiências de minha vida.
Depois disso tivemos ainda a ponte de safena de minha mãe e o derrame que ocorreu logo em seguida. O bebê que perdi e minha depressão. O câncer e o segundo derrame.
Sei que não sou mais a mesma. Fiquei calejada.
Não sou de ficar remoendo o passado. Mas estes grandes sofrimentos às vezes voltam à lembrança. Foram feridas profundas, que mudaram nossas vidas.

Ai que eu preciso escrever um post contando sobre tudo de bom que me faz feliz.

E graças a Deus, as alegrias superam de longe as tristezas...

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